30 de jun. de 2009

Mulher


Nascimento.
Choro.
Menina.
Maria.
Boneca.
Carinho.
Roupinha cor-de-rosa.
Menstruação.
Bolsa.
Espelho.
Diário.
Pente.
Brilho labial.
Decote.
Sorriso.
Saia.
Piscada.
Paquera.
Namorado.
Flores.
Beijinhos.
Meia-noite.
Pais.
Filhos.
Casa.
Marido.
Nascimento.
Choro.
Menina.
Começa tudo outra vez...

29 de jun. de 2009

Contos da Carochinha


Numa noite gostosa de inverno a avó senta seus netos perto de uma lareira e começa a lhes contar uma história...: Num tempo distante, em que as lendas eram respeitadas, uma moça pobre se apaixonou por um jovem nobre. Ele era filho de uma mulher que possuía grandes poderes mágicos e não saía muito a passeios, nas raras vezes, passeava pelo bosque e caçava animais. Nada mais. Ela queria muito conhecê-lo, mas ficava só a observá-lo nas suas poucas saídas. Um certo dia, ele caiu do cavalo e a moça prontamente o ajudou. Eles se entreolharam e a mãe veio a cavalo ajudar o filho desdenhando da moça. Ele ficou alguns instantes a admirá-la. Mas não adiantava. A mãe não o queria com nenhuma moça. A mãe que era quase tida por bruxa na cidade olhou para moça a enxotando e falando através do olhar que ele não queria mais vê-la. Passados alguns dias o jovem ficava a pensar na moça e a sua mãe ficava com ódio cada vez que via o filho pensando... pensando... na moça. O filho saía no bosque querendo vê-la, mas ela tinha medo de se mostrar. Mas estava sempre por vê-lo... saudosa quando os dias eram frios demais para os passeios daquele que vivia em seus pensamentos. A mãe, chateada com a situação, começou a observar a moça pelo bosque. E, num certo dia, pegou a moça a catar frutas caídas das árvores e a observar os caminhos por onde seu filho passava. Olhou para a moça que logo amedrontou-se e num feitiço transformou a moça numa árvore. No dia seguinte, a mãe resolveu passear com seu filho a cavalo e mostrar-lhe a sua obra prima para desiludir o rapaz. Quando ele olhou sua amada em forma de árvore caiu em choro e numa tristeza profunda. Poucos dias depois morreu de desgosto e sua mãe ficou atônita. Se enfurnou em seu castelo e nunca mais saiu. Quando ela terminou a história os meninos foram dormir. Na manhã seguinte, passeando pela casa da avó os meninos viram a árvore e ficaram atônitos... E tem gente que ainda acha que lendas não podem ser verdade...

21 de jun. de 2009

Mulher Fêmea


Eu sou mulher e, dentro de mim,
tenho muitas outras.
Multifacetada, polissêmica e, além de tudo,
plurissignificativa.



Quando me cabe, sou santa,
recebo ordens e, pelo sistema, as cumpro.
Falo baixo, sorrio com delicadeza,
peço desculpas, por favor, com licença.


Quando vira noite,
minha pele não mais me cabe.
Nem sou santa, nem peço por favor.
Quando vira noite sou mulher fêmea,
sou mulher sedenta, mas não puta.


Meu corpo arde em chamas,
mas é de um só.
Não me abro a muitas entradas.
A passagem é livre,
mas não escancarada.


Quando cai a noite,
não recebo ordens, negocio.
Delicadeza, só quando convém,
ou quando é fetiche dele.


Não preciso falar baixo.
Eu grito, suspiro e grito novamente.
Ele gosta... sorri safado, ele adora.

Adentro o quarto dele,
fora de hora, menina veneno,
era mesmo assim?


Ele me olha, sorriso no rosto,
de quem sabe, quem sabe de mim,
da mulher fêmea,
da vontade, do desejo,
da procura, da lascívia.


Ele é ótimo, me toma pelos braços,
vira, revira e vira de novo.
Se embrenha pelos meus meios,
pelos meios de minhas pernas,
e me morde, me lambe, me molha.
E entra, e sai. e me faz mais fêmea,
mais fêmea e mais mulher.


Ele é ótimo, homem levado.
Homem, homem e macho.
E bem me satisfaz,
assim como satisfaço eu, a ele.

Ao rasgar do sol, imbricados acordamos.

O dia vem, sou santa,
porque me cabe, porque é lei.
Mas a noite voltarei eu,
para ele, não santa,
nem puta, mas, mulher.

Multifacetada, polissêmica, e além de tudo,
plurissignificativa.
Assim me sou, assim eu faço.
Sou mulher, mulher fêmea.
Nem santa, nem puta.
Apenas mulher.

12 de jun. de 2009

Ardência


Hoje vou ao teu quarto, à noite,
prepare-se, pois não estou brincando,
quero-te intensa e imensamente.

Te olho faz tempo, e já perceberdes,
fico à espreita, estudando cada uma de tuas ações.
Aguarde, saberás por que me chamam de Fêmea.

Não me detenha, e não sorria sádico, obedeça,
farei de ti um homem por inteiro,
mas não me ligue no dia seguinte,
se eu desejar, voltarei.

Alisa-me como eu quero, e beija-me,
dos pés a cabeça, da forma que desejo, salivante.
Não estou a lhe pedir ardência, lembre-se sempre,
estou a vos dar a oportunidade de sentir prazer.

Prazer ao meu modo, a minha maneira.
Tocarei teu corpo e te arranharei,
quero que me lembre no dia seguinte,
que clame por meu cheiro de novo.

Quero que me lembre e que arranhe-se de raiva,
por não me ter acariciando-te e te deixando rígido.
Quero que enlouqueça lembrando que eu te marquei,
de batom, e não foi somente em sua boca.

Quero ver-te tremer e sussurrar meu nome,
gritá-lo aos ventos que adentrarem o quarto,
que mesmo fortes, não esfriarão o furacão de nós dois.

Tempestuosa dar-te-ei meu néctar mais líquido,
ardorosos beijos e carícias de ardor. Amor, nunca.
Não me ame, nem permita-se pensar em prender-me.
Quero calor, ardor, ardência.

Quero me deter nos teus saborosos abraços,
depois que o sol iluminar o quarto
e tornar claro nossos corpos ardentes.

Não pergunte meu nome, sou apenas Fêmea,
não me procure, retorno a dizer.
Se eu precisar volto a ti, mas somente se eu assim achar melhor,
somente se eu quiser, somente se eu desejar.
Por enquanto, aviso, estarei no teu quarto hoje à noite.

11 de jun. de 2009

Carta De Adeus

Meu amor,

Ontem um anjo veio me visitar. Disse-me que estava marcada a minha hora, que era no dia seguinte, à noite, enquanto eu estivesse a dormir. Implorei para ter mais tempo, para que pudesse somente contemplá-la em teu acordar, mas, depois retruquei, pois seria péssimo saber que chorou por mim. Não quero que chores, porque eu fui feliz. Conheci a melhor das mulheres para mim. A mais furtiva e a mais compreensiva. Resolvi escrever-te essa carta para que soubesse que eu te amo muito. E, também, para dizer que acredito que estarei ao teu lado, em espírito. Queria dizer que esse nosso dia de hoje foi lindo para mim. Planejei tudo dentro do tempo suficiente para dormir o mais tarde possível. Preparei tudo para que você me sentisse em todos os meus sentidos. Quero muito que lembre de mim. Mas que me lembre sempre feliz, pois, retorno a dizer, eu fui feliz, e mais feliz depois que te conheci. Não te prendo a vida... Podes vivê-la como queiras. Podes até arrumar outro, sei que não vou gostar muito da idéia, mas, enfim, tu és tão linda, e sejamos sinceros, e muito ardorosa, não parará só, nem se querer. Só tenho raiva dos beijos que não te dei, dos atrasos e dos minutos sem ti. Quando me vê morto, não me olhes como um coitado, mas como o homem que sempre te amou. Não esqueça de regar os lírios, para que sejam as flores mais belas sobre a nossa mesa. Lembre de trocar a fechadura do quartinho de entulho, sozinha, será melhor se assegurar da proteção da casa. Não durma sem antes verificar todas as portas, não estarei mais contigo para vê-las, sim?! Minha doce amada, te amo muito, por favor, não chores por me ler assim... só escrevi pra ficar mais um tempo contigo mesmo depois de meu corpo está sumindo da humanidade...
Do para sempre seu...!

7 de jun. de 2009

Um Dia Só


Preciso de um dia só,

para jogar fora as coisas antigas,

para estudar mais a minha vida,

para esquecer do que nunca esqueci.


Preciso de um dia só,

sem você ao meu lado,

tentando me fazer acreditar que sou mais,

do que verdadeiramente sou.


Preciso de um dia só,

sem elogios, sem demagogia,

sem aplausos, sem cobranças.


Preciso de um dia só,

para lembrar como sou,

para lembrar do meu rosto,

para entrar em contato comigo,

sem precisar limitar essa conversa íntima.


Preciso de um dia só,

e ter a certeza que estou só.

Desligarei o telefone,

e não atenderei o portão.


Preciso de um dia só,

só, sem televisão.

só, sem rádio,

só, sem jornal,

só na solidão.


Preciso de um dia só,

apagar lembranças,

usar meu tempero,

fazer minha própria comida.


Preciso de um só,

para arrumar a casa,

tirar as teias do armário,

estancar as feridas.


Preciso de um dia só,

para saber o que é solidão.


Preciso de um dia só,

e avaliar,

se tem o mesmo sentido,

de estar ao teu lado.


Preciso de um dia só,

só, só e unicamente só,

para ter a certeza,

de que quando estou contigo,

não estou sozinha.

2 de jun. de 2009

Menstruação


Eu sangro.
Sinto em meus meios
o calor da vida,
não fecundada.
Eu sangro,
e antes disso sinto raiva.
Um turbilhão de coisas
se passam todas,
ao mesmo tempo,
na minha cabeça,
nos meus braços,
no meu ventre,
nas pernas,
em todos os cantos.
Eu sangro,
e o homem não entende,
dá raiva dele também.
Dá raiva de tudo, enfim.
Não fale comigo.
Estou sensível,
agora estou mais mulher,
mulher no extremo.
Eu sangro,
e tenho dores,
dores só minhas,
dores de mulher,
vontades de mulher,
só minhas.
Eu sangro,
e o que me faz sangrar é vida.
Sinto dor,
o roer da vida não vivida saindo.
Não fede nem cheira, ou fede?
Não quero o que não quero e pronto.
E, do nada, estou sozinha,
mesmo com você do meu lado.
Eu quero sentir-me só, melancolia,
pois o sangue está indo embora,
manda lembranças,
e avisa que virá no mês seguinte.
Eu sangro,
da minha fenda, sai vida, não fecundada,
não vivida.