15 de fev. de 2015

Aeroporto


Ele me olhou como se fosse me desenhar.
Deve ter visto a pinta que tenho acima do lábio superior.
Deve ter visto a marquinha da catapora aos 12 anos.
Deve ter visto a cicatriz da queda aos 6 anos.

O olhar dele estava totalmente abrasador.
Ou eu que estava.
Era um quase rir, rindo.
Era um convite.
Era um soneto de Vinicius...
Era uma previsão do tempo: faria sol.

As vozes ecoavam nas chamadas.
Nenhuma era a minha.
Por um momento desejei que ele fosse ao meu lado.
No avião.

Mochila nas costas e uma no chão, revistas e livros.
Milk shake de morango, como eu gosto.
Acho que eu também poderia desenha-lo.

Ele tem cabelos desalinhados,
que se alinham com as necessidades das minhas mãos,
de tocá-los.

A próxima chamada era a dele, me olhou com tom de despedida.
Mal chegamos, mal começamos, ele já vai.
Levantou, buscando algo no bolso que parecia não encontrar.

Talvez os fones, nem mais me olhava.
Sorriu ao encontrar algo no bolso.
Era pequeno, era papel, e pequeno.
Parecia um cartão.

Ele veio na minha direção,
olhei para o livro no meu colo.
Não sabia como conduzir, estava ridiculamente tímida,
de repente.

Ele colocou o cartão sobre o livro.
E disse, suave: - me liga.

Eu olhei pra ele, e ele pra mim.
Sorrimos.
Eu fiz que sim, e faria mil vezes.

Aquele cartão... uma passagem, um ponto de partida.
Próxima chamada: eu. 

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Etc disse...
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