21 de fev. de 2015

Grito




A discussão era a minha necessidade de ir pro cinema ver o tal do filme sadomaso 50 Tons de Cinza. A minha necessidade. E essa palavra ecoava na minha cabeça. Era necessidade? Sim, era. Eu queria sim ver o filme, afinal, li os livros e eu queria sim ver os filmes. Botei pé firme e ele achava aquilo tudo uma loucura. Achava que depois de pedirem independência e estarem niveladas aos homens, aquele filme seria uma agressão ao universo feminino, seria uma doença a mulher desejar estar submissa, que esse contexto não era necessário e extremamente pejorativo. 

Uma coisa interessante é o que ele disse, sim, pedimos e lutamos pela independência e ascensão no universo de trabalho, poder dirigir, poder trabalhar, poder comprar uma casa sozinha, poder comprar um carro, poder fazer inúmeras situações, mas a única coisa que não pedimos é para os homens deixarem de ser homens na cama. Ou estou errada? Eles ficam numa defesa da necessidade das mulheres ocuparem seus espaços, mas não precisam se ausentar de ocupar os espaços deles. 

A mulher nunca abriu uma bandeira para que os homens deixassem de ser homens, nunca foram as ruas pedir que eles parassem de serem quem eram e quem são. E o que isso significa? Ser os protetores, sim, ser aconchegantes sim, e fazer as mulheres felizes na cama com o que os dois estejam dispostos a curtir. Não precisa ser violento se ambos não estejam afim, mas precisam ser um para o outro o que a necessidade de ambos os impõe. A necessidade psicológica, física e afetivo-emocional. Mesmo que alguns seres humanos evitem tratar da última e prefiram a casualidade. Problema deles, ninguém está aqui julgando, a pauta não é essa.

Enfim, por fim, do mesmo modo, ele mesmo de cara feia foi. O cinema estava lotado, ele ficou tenso. Mas qual é o problema? Medo de não dá conta? A pauta aqui é o que fizeram no filme sobre o livro não um debate sobre como você conduz as ações na cama! Por que os homens ficam com o ego tão ferido quando uma mulher busca informações. Eu sei, eu sei, não são todos. 

O filme começou a tensão se dissipou um pouco por causa da tonta da Ana, sempre livre e solta e lerda. Enfim, eu ri... Começaram as cenas quentes e os casais apertam as mãos uns dos outros, eles sabem que aguçam a perspectiva, que dá aquela vontade, que em algum momento ter mãos e pernas atadas e deixar o outro, aquele que você confia e que compartilha de momentos contigo, realizar provocações físicas e o ato em si, saboreando e desfrutando do seu corpo é gostoso. É estar amarrado por vontade de ver o outro usar o seu corpo em prol do desejo dele de te seduzir e dominar as ações naquele momento. Você não vai se tornar mulherzinha se deixar sua mulher te prender na cama, entenda, ela quer aguçar e promover o seu prazer. É uma atitude até altruísta, ou pra ser menos drástica, empática. 

O que as mulheres querem é prazer, o grito do filme em termos filosóficos, aos meus olhos, pra não me julgarem generalista, é o fato de que uma mulher pode sentir prazer com coisas diferentes e se submetendo sim ao toque sendo amarrada ou levando uns tapinhas, às vezes. Não é porque ela não apanhou na infância, não é porque ela é uma pervertida ou que gosta de sofrer, é pelo prazer e prazer não se julga, não é algo pra ser posto e exposto, mas pra ser praticado.

Ele apertou minha mão quando Christian disse a Ana que não fazia amor, mas 'fodia' e com força e eu senti que ele me entendeu. Não dá pra fazer amor todos os dias. Com o fim do filme fomos lanchar e algo me dizia que iríamos começar mais de um de nossos diálogos maravilhosos e filosóficos que não precisam necessariamente nos convencer de algo ou terminar com os dois pensando a mesma coisa. Ter ideias diferentes é o que faz termos muitas ideias. Afinal, se tivermos trocando uma ideia, estaremos sempre trabalhando na mesma ideia, mas se estivermos trocando ideias diferentes, teremos mais de uma ideia, além dos contrapontos. 

O texto está longo, mas feliz daquele que chegou até aqui para saber do depois. [...] Ele disse que ia ao banheiro enquanto eu ficava olhando onde eu gostaria de comer, independente se ele queria comer outra coisa ou não, quando chegasse resolveríamos, ele demorou mais um pouco do que o normal, voltou com uma sacola, mas eu fingi que não vi, talvez passou em algum lugar na volta do banheiro e comprou algo que geralmente todos os homens compram, camisinhas, talvez. Afinal, aquele filme era tão quente em algumas partes que sair dele acompanhada e não ir pra um local para poder ficar a sós e curtir um pouco é covardia, ainda mais com a gasolina tão cara, por favor, me poupem de me achar machista, eu apenas estou sendo econômica. 

Ele desviou minha atenção durante o lanche. Sim, ele quis comer onde eu queria. E o papo foi um embate filosófico perfeito. Bebericando um bom vinho e deixando que a inteligência fosse o toque afrodisíaco naquela noite. E foi realmente afrodisíaco. Mas eu não esqueci a sacola.. Fomos para o local pra ficar a vontade mais próximo que encontramos, numa suíte exótica, como ele pediu, eu silenciei. Ele estava dominador no tom de voz e na firmeza das palavras, além de ter me dado um super aperto na coxa que acordou todos os elementos sexuais do meu corpo. Sim, ele fez isso. Mas eu ainda não esqueci da sacola.

Assim que chegamos, eu ia abrir a porta, nunca fui muito fresca em pensar que ele não era um cavalheiro somente por não abrir a porta, mas ele me disse: 'Fique no carro'. E eu fiquei excitadíssima. Na cara dele estava estampado o aviso: Não quer brincar? Então vamos brincar. E aquilo era quente e excitante demais da conta. Ele fez a volta e jogou algo pelo vidro, um saquinho escuro e felpudo de onde tirei uma venda, eu ri, muito, e fiquei extremamente em cólicas de tesão e expectativas. Eu as pus tentando ser leviana em deixar uma brecha para ver, mas resolvi encarar a brincadeira. Afinal, era ele. E ter ele perto era estar com alguém confiável. Me entreguei. Ele abriu a porta e disse bem perto do meu ouvido: Eu vou conduzir você até te permitir tirar a venda, entre no jogo e não seja leviana, é tudo para o seu e o meu prazer. 

Eu estava tão molhada que não daria para pensar na seca de São Paulo naquele momento. E tinha mais. Assim que saí do carro ele disse: Mostre as mãos. E eu fiz, como Ana fez no filme e me senti a putinha submissa. Era altamente divertido. Eu era objeto de contemplação, análise, uso, abuso [risos], teste. Ele estava testando os meus sentidos em prol de termos prazer e eu estava adorando isso. Amarrou minhas mãos em um tecido suave, eu podia jurar que era uma gravata, mas não podia ver. Se fosse uma gravata eu ia dá um grito assustando os outros casais nos outros quartos que podiam estar no frenesi que eu estava. [Aliás, ouvir os outros casais em frenesi é engraçado.]

Levou-me para o quarto, me jogou na cama.. e pediu que eu ficasse quieta, ou senão teria de sofrer as penalidades... E que penalidades seriam?! Minha mente estava a mil e por um momento eu queria descobrir o que era. O mal é a curiosidade adquiria pela expectativa da descoberta. Ele começou a tirar minhas sandálias, beijar meus pés.. mordiscar levemente... Passando as mãos por baixo do meu vestido, empurrando ele para cima.. me deixando com apenas calcinha e sutiã a mostra, sentir ele sair da cama - incrível como o efeito de ocultar um sentido do processo faz os outros ficarem mais aguçados, como descreve Indigo Bloome em seu livro 'Destinados'. 

Quando ele retornou, ouvi uma taça se pondo sobre uma mesinha ao lado da cama. Algo me dizia que era gelado, mas não era o ar condicionado a me dizer isso. E sem esperar, ele passou gelo nas minhas pernas e veio empurrando o gelo com a boca e o ar quente que saía da boca expulsava um vento frio além do contato do próprio gelo no corpo que ia derretendo na pele e sofrer essa provocação foi incitante para os meus gemidos que ecoaram no quarto com o susto.. sentir a boca dele rindo na minha pele ao realizar esse passeio com o gelo foi estimulante o suficiente para começar a me mexer e ele parou. E eu sofri. 

'Ah, por quê?', retruquei. Ele disse: 'Menina má, está tão fudível e gostosa'. 'A demora é sua', eu respondi. Ele mandou eu chupar o gelo que colocou na minha boca com um beijo atordoador, arrancou-me o sutiã e apertou meus seios e mamilos como se fosse arrancá-los de mim, mordeu e sugou com a boca ainda gelada me deixando tonta de delírio. Colocou a mão dentro da minha calcinha, com a outra apertando meu mamilo e a outra mordiscando o outro e eu quase desabei naquela hora mas sustentei a explosão. 

O primeiro orgasmo foi inevitável, aqueles dedos gélidos e com movimentos leves e ritmados me deixam afônica e sentir foi apenas o que meu corpo conseguia fazer, absorver toda aquela adrenalina.. sentir ele me virar de bruços, beijar todo meu corpo e roçar todo o volume atrás de mim falando ao meu ouvido: Não dá pra jogar com você por muito tempo, preciso sentir você por dentro, com força e vai ser agora. Enfiou toda sua virilidade em mim com fome e vontade dando tapinhas na minha bunda, puxando meus cabelos e sorvendo meus seios por vezes, foi inevitável naquelas violentas estocadas não gozar novamente quando o senti gozar dentro de mim. Cansado e com a respiração super irregular se jogou ao meu lado e tirou minhas vendas. Sim, era uma gravata cinza que amarrou minhas mãos. Somente um homem sagaz pra borbulhar o imaginário de uma mulher. E, não se enganem, o imaginário feminino alimentado pela sagacidade masculina de criar situações na cama é o combustível para você ter uma puta na cama. 

Ele riu e compartilhou do meu obrigada no olhar. Foi ótimo e delirante. O convite dele para o banho na hidromassagem foi o recarregar das minhas energias. Olhou-me com ternura e é extremamente agradável saber que ele entendeu que não precisamos deixar de ser quem somos para nos proporcionar momentos frenéticos na cama. Ele me buscou com o olhar e eu continuava ali, bem como ele também continuava. Não deixamos de ser quem somos, mas teatralizar faz parte do processo de alimentação psicológica sexual. Entendamos isso de uma vez e sejamos mais felizes. 

Juntos, nos dando carinho na banheira ele riu dizendo que queria sentir o mesmo que eu senti. A entrega. Eu virei para ele e olhei nos olhos dele furtivamente dizendo: 'Eu trouxe algemas e algumas coisinhas na bolsa. Espera pra ver. Ou não ver, quem sabe.' Os olhos dele ficaram arregalados e eu me senti totalmente divertida e sensual abrindo as cenas da nossa madrugada. 



19 de fev. de 2015

Sedutora



Eu tentei ir de sambinha por alguns dias,
mas ele queria rock hardcore.
Nada estava errado. Ele só queria mais.
Mas eu pensei que mais eu não podia.
Vergonha de quem eu era.
Sendo justamente o que ele queria.

Eu tentei ser suave, matematicamente delicada.
Ele queria vinho e nada de poesias.
Queria meias e saltos
Queria olhares e arranhões.

Na confusão dos meus enganos,
desnudei a vergonha e deixei ela pelada.
Troquei o ar de santa e vesti vermelho.

Batom e maquiagem, traquinagem.
Roupinhas fáceis de vestir, 
e de tirar nem se fala.

Nas minhas curvas,
sem temer multas, ele derrapava,
acelerava, não pôs freio nem de madrugada.
Luzes por todo quarto.
Cheiro, suor, calor.

Tudo que temi era apenas meu.
Nunca dele.
Não há mais vergonha do que sou.
Nem de mim, nem dele.
Me sinto sedutoramente sedutora.

Entregue


Eu não resisto muito a banhos de mar ou de cachoeira contigo, me entrego. Eu não resisto muito a sair de carro ou moto com você e pararmos pra vê a natureza, me entrego. Eu não resisto muito quando me convida pra jogar, mesmo sabendo que vou ganhar todas se eu colocar aquele decote que você não resiste olhar e se desconcentra, eu me entrego. Eu não resisto muito quando você diz que tirou uma folga para aproveitarmos o dia, posso até estar ocupada, mas não resisto muito, me entrego.


18 de fev. de 2015

Prisioneira

Independente dos motivos, você está sempre atrelado a algo ou alguém. Prisioneiros de linhas invisíveis da cultura, crenças, atos, família, atitudes, agrados, amor, passados e presentes, Ah, e pessoas. É sempre uma linha invisível aos olhos dos outros. É sempre por algum motivo do qual simplesmente você sabe que foi condicionado, muitas vezes por você mesmo a seguir. É sempre por algo ou por alguém. São sempre as mesmas linhas. É sempre a mesma prisão, todos os dias. A chave? Ou se perdeu, ou está dentro do bolso. Como sair? Como entramos? Por quê? É sempre por algo ou alguém. Sempre [...]

17 de fev. de 2015

Cativa

[...]
Seus olhos perfuram meus sentidos,
Descobrem minhas fantasias,
Desnudam meus pensamentos.

Sua voz muda o ritmo da minha respiração,
Aguça-me os ouvidos,
Refina meu olfato.
Seu toque descama minha pele,
Abrasa-me os poros,
Arrepia os pelos.
Me prende,
Me funde,
Confunde,
Cativa.

15 de fev. de 2015

Aeroporto


Ele me olhou como se fosse me desenhar.
Deve ter visto a pinta que tenho acima do lábio superior.
Deve ter visto a marquinha da catapora aos 12 anos.
Deve ter visto a cicatriz da queda aos 6 anos.

O olhar dele estava totalmente abrasador.
Ou eu que estava.
Era um quase rir, rindo.
Era um convite.
Era um soneto de Vinicius...
Era uma previsão do tempo: faria sol.

As vozes ecoavam nas chamadas.
Nenhuma era a minha.
Por um momento desejei que ele fosse ao meu lado.
No avião.

Mochila nas costas e uma no chão, revistas e livros.
Milk shake de morango, como eu gosto.
Acho que eu também poderia desenha-lo.

Ele tem cabelos desalinhados,
que se alinham com as necessidades das minhas mãos,
de tocá-los.

A próxima chamada era a dele, me olhou com tom de despedida.
Mal chegamos, mal começamos, ele já vai.
Levantou, buscando algo no bolso que parecia não encontrar.

Talvez os fones, nem mais me olhava.
Sorriu ao encontrar algo no bolso.
Era pequeno, era papel, e pequeno.
Parecia um cartão.

Ele veio na minha direção,
olhei para o livro no meu colo.
Não sabia como conduzir, estava ridiculamente tímida,
de repente.

Ele colocou o cartão sobre o livro.
E disse, suave: - me liga.

Eu olhei pra ele, e ele pra mim.
Sorrimos.
Eu fiz que sim, e faria mil vezes.

Aquele cartão... uma passagem, um ponto de partida.
Próxima chamada: eu.