31 de mar. de 2009

Versos rubros de saudade

Cai a tarde,
e o dia se faz noite,
o sol se faz lua,
e eu me faço em versos,
todos rubros de saudades.

Saudade, palavra linda,
vocábulo pertencente,
somente,
a língua portuguesa,
mas nem tanto como vos pertenço.

Saudade de ti,
dos teus afetuosos sorrisos,
ilhargos e apimentadamente lascivos.

Saudade da tua boca,
do teu penetrante olhar...
penetrante...

Saudade das horas ganhas nos teus braços,
abraços, apertos, enlaços...
sem jeito me dou, sou tua.

Saudade das tuas mãos,
que me tateiam,
que me mapeiam,
e conhecem,
me adentram,
me saem,
me enlouquecem...
me entorpecem,
me arrepiam e me fazem tremer.

Saudade do calor dos teu lábios,
em meus ouvidos,
falando frases feitas,
ou não falando frase alguma,
em minha pele,
em meu poros,
em meus arrepios.

Saudade do teu corpo,
que em meu corpo se torna meu,
que em seu corpo se torna seu,
numa dança aliciante,
que não precisa de música, nem de músicos,
dança de muitos passos, posições, amassos.

Cai a tarde,
o dia se faz noite,
e o sol se faz lua,
eu me faço em versos,
todos rubros,
rubros de saudade,
saudades de você...

você: meu vício.

30 de mar. de 2009

Tua cor em minha pele

Não quero mais teus versos.
Nem tua lira, nem tuas canções,
nem tua prosa, nem tua palidez.

Quero tua cor em minha pele,
teus sussurros em meus ouvidos,
teu calor e tua fluidez.

Adentra em mim como brasa,
e aquece-me por inteiro.
Deita-te em todos os meus lados,
e que seja teu meu interior.

Que cada palavra se torne corpo,
ação, sentidos, ardor.
Quero arder líquida e deliquecida.

Toma-me austera, rude e voluptuosamente.
Quero sentir a rigidez de teus delírios,
quero me fazer gemidos,
para que tu se faça suspiros, suor, fluidez,
e, acima de tudo, reminiscências.

Quero-te agora,
dentro,
fora,
aqui, alí e acolá.

Quero-te, quero-te, quero-te...
...adentra.

26 de mar. de 2009

à Mileide...

Lady, sim, Lady em todos os detalhes.

Pequeno anjo de grandes pensamentos,
de palavras rubras e fraseadas,
de pensamentos soturnos e sonhadores.

Lady, Lady, Mileide.

Sorrisos, olhares, vestidos.
Carinhos, caminhos, destinos.
Mistério, amor e cílios.

Profana mulher santa,
de curvas, de medos, de idéias.

Sim, Lady, Lady, Mileide.

Menina mulher refinada,
de calor ou sentimento.
Os dois.
Ele também.
Ela também.
Chic'ela.

Polissemica, ambígua, plurissignificativa,
mulher feita de verso e prosa e empoemamento.

Sim, Lady, Lady, Lady...Mileide.

A ti amiga querida.
Poetíssima.

Sonhalidade

Acordando de um sonho,
penetro em outro,
ao te ver adormecida em minha cama,
ao meu lado,
perto de mim.

Sonho real.
sonhalidade.

Teu corpo,
estreito em tuas curvas,
mimétrico,
que toquei,
que embevecido tomei,
que nele delirei.

Ligeiramente arredondado,
no mais perfeito compasso.
Me tornarei perito em você.

Mulher em toda dimensão do ser,
cálida, pálida, serena, pequena, minha.

Tudo em ti se faz mulher.
minha mulher, mulher minha.

Sou fascinado pela tua presença,
pelos teus olhares,
pelo teu corpo,
por ti na íntegra.

Te decifraria no escuro,
no claro,
no rubro...

Mas, enfim, me calo.
Para não deixardes de ser
sonho, realidade,
sonhalidade.

Se...

Se tu estivesse aqui,
olharia em teus olhos
e ficaria a fitá-los,
te vendo sorrir ao ser cortejada,
te vendo brincar de olhar para mim.

Menina mulher, menina...

Se tu estivesse aqui,
tocaria seu rosto
e ficaria a pensar como fostes esculpida,
decoraria o código que te formatou,
e faria inveja aos que não podem tocá-la.

Mulher menina, mulher...

Se tu estivesse aqui,
sentiria tua pele, teu calor,
me derreteria em tuas temperaturas,
sorveria teu néctar e abrasaria meu eu.

Líquida e íntima em meu colo,
menos menina e mais mulher.

Menina mulher, menina...

Se tu estivesse aqui,
acordaria do teu lado,
e não me faria teu anjo da guarda,
mas guarda do anjo,
preguiçosa num sorriso angelical.

Mais menina e mais mulher,
feminina.

Se tu estivesse aqui,
eu estaria contigo.

Mas, somente se tu estivesse aqui...
materializando um sonho
que teimo sonhar, num quarto menos vazio que eu.

Poetíssima
Em 26.03.2009

22 de mar. de 2009

"Jesus te ama" - diz o 'crente'...

Em nossos dias vemos de tudo. Mas nem sempre reparamos.
Estava eu num ponto de ônibus para cumprir mais uma rotina. Como eu estava meio irritada por estar atrasada, não conversei com uma senhora que estava ao meu lado e puxava assunto. Respondia normalmente, mas evitando respostas que prolongassem o assunto. Enfim, chegou outra amiga dela e me esqueceu. Analisando-a, ela era mais uma senhora protestante fanática. Sem querer julgá-la. Mas eu ouvi que estavam falando sobre 'coisas da igreja'. O ônibus chegou e todas 'pegamos' ele. Numa outra parada, entou um homem, ou um garoto-homem, evangélico também. E digo isso, pois quando ele entrou bradou aos quatro cantos: 'Jesus te ama'. 'Jesus te ama' - dizia o 'crente'. A todos por quem passava, a cada passo. Eu disse 'amém' em meu silêncio. E a senhora do ponto de ônibus, comentava com a outra - que por acaso sentaram atrás de mim - comentavam sem cessar que ele era um lunático, que Jesus não se faz assim, que isso e que aquilo. Engraçado que o 'crente', como elas chamavam ele, ouviu e as indagou: '-Senhoras evangélicas, do que tem medo?' Eu ri. E definitivamente foi engraçado, elas foram 'pegas' de surpresa.
Mas, mais do que uma tentativa de crônica, isto é uma reflexão. Sem levar em conta a religião de ninguém, geralmente quando um 'crente' desses faz uma declaração dessas muitas pessoas se escondem em seu íntimo, ou desconversam, ou não ligam, ou se intimidam, ou acham chato. Contudo, do que 'temos' medo? O que sentimos ao ouvir esse recado? O que nos intimida? O ser humano e seus mistérios...

20 de mar. de 2009

Novo Dia

Marina estava grávida. E, definitivamente não sabia o que fazer. Nem bem tinha começado aquele relacionamento. Ele não era o homem da sua vida. Mas, acabara de saber que fez uma vida nela. O que os pais diriam? Nossa, aquela médica não deu uma notícia, mas a inseriu numa guerra de conflitos que ela já tinham começado a pensar quando se sentiu enjoada na escola. Estavam juntos sentados no pátio e ela enjoara um cheiro de comida. Ele a largou e sorriu, dizendo que se ela tivesse grávida não era dele. Irônico. Sabia que somente ele a tinha como mulher. Infantil. Sorriu para ele, para por um momento entrar na brincadeira. Mas a consciência a atacou...E se estivesse mesmo grávida? Que loucura. Os pensamentos se dissipavam com a dor que isso causaria a tantas etapas da sua vida. Tinha dois meses que fizera 16 anos. O conheceu numa dessas festa noturnas que disse para a mãe que ia dormir na casa de uma amiga. E o 'lance' já durava cinco exatos meses. Na escola todo mundo sabia deles. Em casa, a mãe ainda a tratava como uma criança. Ela do segundo e ele do terceiro colegial. A família queria que ele prestasse vestibular em uma outra cidade. Ela tinha medo de perdê-lo. Foi a uma médica conhecida e pediu que não comentasse com sua mãe. Enfim, estava grávida. Grávida, grávida, grávida. Repetia para ver se acabava acreditando. Fim de ano, e esse seria o presente de Natal que nunca pedira. Ele se preparava para fazer o vestibular; ligou para ela, mas, Marina preferiu pensar sozinha. As amigas virgens: 'fala pra sua mãe'; as outras: 'aborta, conheço uma clínica'. E o que Marina podia fazer? Chegou em casa e a mãe reclava de uma amiga que estava passando apuros com uma filha grávida. Praguejou a menina de tal forma que Marina preferiu se trancar no quarto. Ele ligava insistentemente. Mas parou. Não aparecia na escola. Mas ela sabia que ele tinha ido fazer o vestibular. Dois meses de gestação, mas como nunca foi uma modelo de televisão, ainda não percebia-se. Mas e ele, onde estava? Ligou de novo, enfim. 'Onde você estava? Está faltando aulas.' Ele respondeu baixo e diretamente: - 'Passei e vou morar aqui'. Pronto. Mão adolescente e solteira? Era o fim do mundo! Desligou o telefone. Ele ainda queria dizer que a queria por perto, que nesse tempo pensou muito neles e que pediu aos pais que ela se mudasse com ele. Morariam juntos. Todavia, ela não esperou, não queria mais atender. Procurou as amigas e resolveu abortar. A vida continuaria, ela precisava crescer. Homens, jamais - se prometia em vão. O pensamento só estava nele. Dia e hora marcados. Não teria mais filhos. Se sentia culpada, mas eram tantas culpas. Deus seria misericordioso - pensava. Ele continuava ligando, e ela o praguejava. A ceia de Natal já estava sendo comprada. E ela escondia de tudo os ferimentos. Estava cicatrizando rápido. Uma semana depois, rumores dele pelo bairro. Foi para escola, mas nada era concreto e sua mente brigava em procurá-lo ou não procurá-lo. Quando chegou em casa, a mãe lhe falara de visitas aos risos. Ele e os pais dele foram ter com a família dela. Ele não mudara nada. A mãe ficou feliz com as descobertas. Ela desmaiou. Perdera muito sangue na clínica e um susto desses lhe fugiu a vida. Ao acordar, a mãe estava ao seu lado, num quarto de hospital. Ela a olhou com um rosto sério e sombrio. A esse tempo, todo mundo descobriu tudo. 'Cadê?' Perguntava por ele. A mãe desconversou. Mas ao ser noticiado, fora embora. Não queria para a vida dele alguém assim. Precipitada - ele reclamava dentro de cada um dos seus silêncios. Mais um casal que termina assim. Pegou 'fama' na cidade. A vida continua. Amanhã, independente disso, seria outro dia, um novo dia, tanto para ele, quanto para ela, e para todos. Mas nunca mais para a criança gerada por aquele amor.

Poetíssima

Cidade Minha

Sou aquela que nasceu e possui vida.
Que cresceu e se tornou caminho,
de muitas ruas, chão e estradas,
com muitos sinais e sinalizações.

Me construo a cada curva,
e em cada esquina me desfaço.

Se pecorres-me por inteiro,
percebe que não conhece nem sequer metade de mim.

A cada manhã me faço mais curvas,
mais sinais, mais estradas e sinalizações.

Minhas ruas não possuem rachaduras,
meus conflitos se constroem em minhas encruzilhadas,
e ladeiras,
e becos,
ruas, avenidas e demais caminhos.

Caso dobre em minhas estradas,
silencie-se,
posso me esconder em minhas esquinas.


20/03/2009