25 de jun. de 2010

O melhor momento do poeta #


O melhor momento do poeta é quando tudo é dor.
Quando o chão cai aos pés.
Quando as paredes se fecham.
Quando está com saudade.
Quando está sozinho.
Quando o sangue transborda o pensamento.
Quando a seriedade transpõe o sentimento.
Quando sei que tudo é sofrimento.
Quando nada me faz eu.
Quando sou um outro e vos tomo as dores.
Quando o som toca a alma.
Quando a música é vista além de escutada.
Quando o impossível torna-se palavra.
Quando o amor torna-se secreto.
Quando o homem torna-se mulher.
Quando a mulher torna-se tudo.
Quando surgem flores no inverno.
Quando não é mais primavera.
Quando o vermelho invade o outono.
Quando sangro, quando sofro, quando amo, quando não tenho você...#

23 de jun. de 2010

Cála-me #


Cála-me...
da forma mais preciosa,
mordiscando o pé do meu ouvido.
Dizendo palavras para ninguém ouvir.
Dizendo palavras para mim.
Tóca-me as costas,
com as costas das tuas mãos,
arrepia-me o ventre,
amolece-me as pernas,
aturdece-me o peito,
deixa meus mamilos rubros de vontade,
Mamilos que você toca,
que você arrepia,
que você degusta,
que você lambe,
que você morde enquanto lhe aperto a nuca,
enquanto suas mãos tomam a ousadia,
e adentram minhas coxas...
querem as duas tirar toda minha roupa,
querem me devorar,
e me apertam, deixando-me marcada.
Marcada de desejo,
marcada de tesão.
Cála-me com beijos,
e suma embrenhado em minhas pernas.
Faça-me tremer de desejo,
apresente-me tua língua...
quando esguio te vejo,
a desfrutar de tua fruta,
a saborear meu corpo nu,
quero que arranque o meu orgasmo em gemidos,
faça-me escrava do teu prazer...#

Em tela.. #



Pinte-me em sua tela,
sabendo que nela não desnuda meus segredos,
sabendo que nela não tinge meus medos.
Sabendo que tudo que em mim está contido,
não lhe saltará em cores.

Pinte-me ciente...
nada que em mim se faz,
sairá em teus traços.
Nenhum dos teus riscos será suficiente.
Nenhum toque na tela me trará.

Pinte-me sabendo que não estarei nesta tela.
És ela mais uma representação mal feita
de toda a minha imperfeição.

Pinte-me nesta tela,
sabendo que lembrarei dela,
mas nada nesta tela terá minhas lembranças,
nem mesmo conterá nenhuma das minhas recordações,
nem desta nem de outra vida,
nem dos meus amores, nem dos desabores, nas das limitações. #

22 de jun. de 2010

Feridas #


Jaz aqui meus poemas para ti.
Jaz aqui toda a minha poesia para ti.
Eu, que tanto lhe escrevi,
que tanto lhe fiz cartas,
hoje só tenho o seu desprezo,
que é mais que indiferença,
mas é menos do que eu queria e mereço.

Jaz aqui os meus sonhos para ti,
toda a minha felicidade iludida,
todas as minhas tardes perdidas,
todo o meu pensar e o meu planejar,
para um ser que não mais me pertence,
quiçá um dia foi meu.

Jaz aqui os meus delírios e os meus desejos,
não os quero mais vos dedicar,
proferir-lhe-ei mais nada.
Quero que os cantos noturnos te aturdeçam,
pois minhas palavras já esmureceram por ti.

Jaz aqui toda minha ternura,
jaz aqui todos os meus beijos,
jaz aqui todo meu amor,
jaz aqui porque assim tu desejas,
jaz aqui, por você, e somente por você,
nessas feridas palavras paridas,
nestas frias palavras malditas,
meu eterno desamor.

20 de jun. de 2010

Reencontro #


Essas coisas da vida. Como pude te reencontrar? Homem negro da noite fria... que me abraçava e encantava meus ouvidos com sua voz. Tudo normalmente acontecendo e você entrou naquela sala com ar desavisado. Olhei-te com desejo de saber quem eras, pois sua voz... era o máximo da masculinidade que me atraiu. Conversamos e sabíamos que não podíamos nos largar, por nada. Simplesmente porque tínhamos uma espécie nunca vista de relação, mais que pele, mas que amor, mais paixão, mais que sexo, mais que amizade... era diferente, e assim foi, assim é. Não deciframos nunca o motivo de nossos sorrisos. Não sabemos nunca o motivo de ficarmos arrepiados com o toque das mãos um do outro. Coisas de outra dimensão... Ontem te vi, mas não me viste. Melhor assim, não saberia reagir, estava tão tensa, não saberia me entregar aquele encontro. Eu ri... ri tanto ao te ver, saudades. Quando cheguei em casa, lembrei da música que me cantaste num daqueles encontrões descendo e subindo escadas... 'Boa noite' de Djavan.. 'seu ar de dominador, dizia que ia ser meu dono... e nessa, você dançou..' Quem sabe da próxima?!